Não conheço o sistema muito bem, o que te leva a dizer isso? Eu sei que no Canadá e no UK é um sistema em que é muito fácil um Primeiro Ministro rodar.
O lance com o parlamentarismo é que ele é um sistema político de governo em que a tendência natural do congresso é funcionar por consensos, não por impasses, como é o caso do presidencialismo - ainda mais em sistema partidário tão fragmentário como o nosso. Além disso, ele induz a democracia na rotina do cidadão de uma forma muito mais participativa, já que se o governo for ruim, ele simplesmente acaba e todo mundo vota para formar outro congresso e outro gabinete. Não tem essa de aguentar quatro anos de governo horroroso.
O parlamentarismo se comporta assim porque a lógica lá é de o congresso está naturalmente investido no sucesso do governo, então os esforços de quem é maioria - e assim ganha o direito de indicar o primeiro ministro, que é quem forma e gere o governo - está naturalmente investido na ideia de dar sustentação a esse governo.
Aí você pode dizer: mas no presidencialismo não é a mesma coisa?
Na verdade não. Porque você até pode ter maioria absoluta no congresso, mas a tendência natural é de que esses deputados representem, em primeiro lugar, seus objetivos individuais. E, no limite, eles não estão investidos no sucesso do governo: em crises e questões polêmicas, a tendência é de que uma parcela importante dessa base oscile e acabe fortalecendo a oposição. No limite, em caso de impeachment, você vê algo como ministro da Dilma pedindo licença do cargo para voltar a câmara e votar a favor da derrubada porque ali é a lógica de sobrevivência dele e do mandato, o governo, projeto de país (que não existia, sejamos francos) e todo o resto que se foda. Em resumo, como eu disse, o congresso, no presidencialismo, não tem nenhum compromisso com o sucesso do governo.
Já no parlamentarismo, governo e maioria no congresso são duas faces da mesma moeda. O seu partido, ou grupo político, só vai ganhar o direito de governar se for maioria e a manutenção dessa maioria depende de sinergia entre o executivo entregando o que se propôs e essa maioria atuando no sentido de garantir o governo. A grande diferença para o presidencialismo é que se o governo se mostra ruim, impopular ou alguma crise estoura, o chefe de estado (a rainha na Inglaterra, o presidente da Alemanha) pode dissolver o parlamento e o governo*: ou seja, os deputados todos perdem o mandato e terão de entrar em campanha para convencer o eleitor mais uma vez que merecem ser eleitos.
* Uma outra forma do governo cair é quando uma parte da base de apoio no congresso decide votar com a oposição e aprovar o que, geralmente, eles chamam de "moção de repúdio". Aconteceu um monte no processo do Brexit, enfatizando a falta de consenso no parlamento e na sociedade sobre o assunto.
Desse fato simples - você só governa se for maioria - acaba que você não tem necessidade de contemporizar com os centrão da vida (assumimos que o sistema partidário seria reformado para funcionar no parlamentarismo), afinal você já é maioria. Sua posição também e bem melhor para aprovar medidas e aplicar a sua visão de mundo no governo.
Essa dinâmica do parlamentarismo, de que a duração do governo é determinada pelo seu sucesso, e não por um prazo fixo, impõe que acabam os problemas clientelistas de reeleição, por exemplo, fortalece os partidos políticos de cunho ideológico - você precisa formar quadros engajados na visão do partido e naquilo que você deseja impor no governo, do contrário não terá sustentação quando assumir - fortalece a oposição, torna a democracia mais direta porque nada impede você ter mais de uma eleição principal por ano, assim como permite que um governo bem sucedido se prolongue por mais de uma década.
Tudo isso, claro, é um resumo de como as coisas deveriam funcionar: o parlamentarismo é também um sistema político criado e gerido por humanos, sujeito a falhas, imperfeições, perversões e ineficiências. Há situações extremas, como a Bélgica que ficou anos sem governo, impasses e eleições frequentes na Itália e na Espanha com um espectro político extremamente diluído e perplexidade dos políticos lá em criar consensos e novos modelos de país e tudo mais.
Mas eu ainda acho melhor do que aqui. Não é por acaso que, das 8 maiores economias do mundo, o único presidencialismo é os Estados Unidos. Também não é acaso que o período de estabilidade política brasileira mais longo tenha sido o segundo reinado, que tinha estrutura parlamentarista (embora com a figura de um monarca absolutista). Sim, o voto não era universal, a sociedade era escravocata e atrasada, o poder era concentrado na mão da elite e do imperador, mas as dissensões constantes do sistema parlamentarista simplesmente atenuaram conflitos e impediram a proliferação de golpes de estado que é a norma na história política republicana. Só friso que não estou defendendo nem aquela monarquia, nem uma monarquia constitucional, só usando o exemplo histórico mesmo.
EDIT: No Brasil, o parlamentarismo é sempre usado como muleta e de forma má intencionada. Na última investida mais ou menos séria a respeito disso, o plano era basicamente transformar o modelo atual em parlamentarismo, acentuando suas perversidades, de uma forma tal que a gente teria de engolir um PMDB da vida indicando chefe de governo
ad infinitum. Se por para ser assim, aí eu sou contra.